27 dezembro 2016

Deus é maravilhoso - Joyce Xavier e Vitor Ávila


Eu sempre soube que Deus é maravilhoso, mas nunca imaginei que seu amor por mim era tão grandioso. Eu como todo ser humano, tenho minhas desobediências e já sofri muito com as consequências. Procurei o caminho da luz e encontrei anjos que me mostraram o poder divino. Percebi que o mundo maligno não é apropriado para o meu coração, com tudo isso resolvi me ajoelhar e resgatar a fé na oração. 

Em poucos momentos o perdão tomou conta de mim, a paz veio de mansinho e acolheu-me num abraço. Senti um gosto de céu na alma e tudo ficou tranquilo, claro como a brisa que abraça em dias doloridos. Foi então que sorri e meu coração esboçou gratidão. Agora, não sou mais escuridão, a essência divina habita em mim e tudo que rodeia o meu ser também é tocado com ternura, torna-se luz. 

As sombras não me vencerão, as trevas foram visitar outro sertão. Recebi presentes de Deus e não desacreditei. Agarrei-me com sobriedade e senti-me a vontade com o herói que não me deixa com saudade.

Joyce Xavier e Vitor Ávila

23 dezembro 2016

Depressão, o meu pior pesadelo.


A dor não ameniza, a lágrima não acaba e a minha mente continua a desabar. Os gritos internos roubam o meu sono, o silêncio externo tranquiliza. Os sustos são frequentes, a voz trêmula é persistente. Nada do que eu vivi irá se repetir, nada do que eu vi irá me iludir. 

Sonhos fracassados ocuparam espaço e os novos desejos estão bloqueados. Não sei o motivo, acho até que não tenha nenhum. Eu apenas acordei com uma dor, ela me pesa e me deixa sem respirar. Coração está gelado, cansado das mentiras que idealizamos em nossa mente para não sofrermos. Fugir é preguiça para o próprio crescimento. 

Cegar-se, é a forma mais fácil e cruel de se livrar da dor. A dor dói, mas constrói uma fortaleza. Não quero sobreviver com a ferida que eu mesma insisto em mexer. Não procuro remédios, achei a cura em mim mesma. 

Encolho-me e começo a rezar, uma hora a dor se cansa e vai embora sem data pra voltar.

Joyce Xavier.

21 dezembro 2016

SILÊNCIO TAMBÉM É REMÉDIO - Por Giselle F



— Quer conversar?

— Preciso, mas não sei se consigo.

— Então dá uma pausa. Se dá um tempo. Faz meditação.

— Sério?

— Sério. E se concentra em ti, na tua respiração. Tenta deixar a mente vazia.

— A última coisa que ela está agora é vazia. Sabe disso, não é?

— Sei, mas faz o que tô falando. Funciona.

— Vou tentar. Mais tarde, tá?

— Tá. Promete?

— Prometo.


 Li há pouco um texto, num blog que adoro, e me pergunto por que foi que não interrompi a leitura logo no título. "A perigosa gravidade de um relacionamento sem pequenas gentilezas". A cada linha uma pontada. Lágrimas se formam, mas insisto em contê-las. Não posso. Não devo. Não quero chorar. Não hoje. Não agora. Não assim.

Galvão Bueno me salva — nunca pensei que diria isso — narrando, irritantemente, mais uma partida de futebol na TV. Ouvi dizer que é um jogo importante e deduzo, pelos socos que vem da outra ponta do sofá, que não vai muito bem. Já mencionei o quanto detesto a voz desse cara? Talvez eu já esteja naquele período do mês que tudo irrita, mas não consigo mais aturar nem uma sílaba do que diz. Apelo para os fones de ouvido e abro o Media Player. Qual era mesmo o CD que eu estava ouvindo da última vez? A voz é logo reconhecida, tanto quanto o aperto no peito.


 "Um grande amor nascenas coisas pequenas,
Num detalhe, num pequeno poema
Numa carona de guarda-chuvas
Na sexta-feira, depois das dez."
Ela Manô - Aconteceu Você


Como algum tipo de conspiração, o CD começa a rodar e desconfio que Ela Manô e Ricardo Coiro estão em conluio pra acabar comigo. A noite não tá fácil, produção. Por falar em noite, o clima parece tão... Sei lá. Sei que venta lá fora, pelo balanço da cortina, mas em mim, tudo está tão... Ameno. Nada de ventos fortes, trovões ou raios sendo disparados peito afora. Nada de olhares estrelados também. Calei-me dias atrás e no meio do meu silêncio constato: nunca gritei tão alto. Sempre tive um medo absurdo de tanto-faz-como-tanto-fez, mas essa noite eu sou a própria indiferença. 

Lembrei que mais cedo estava lendo meu atual livro predileto. Neste capítulo a personagem falava da morte constantemente lhe rondando e de seu dom para tirar a vida de tudo que a cercava. Exagero, claro. Mas entendi perfeitamente e — ouso — até me identifiquei. Sempre que se aproximava de alguém sentia que aquela pessoa partia aos poucos até que, por fim, fosse embora pra valer. Parte dela morreu naquelas linhas. Parte de mim morreu nessa noite. Ainda não sei, com precisão, o quê ou como. Mas não sou mais a mesma. 

Paro o CD, desligo o computador, levanto e vou até a cozinha. Sirvo um copo com água, o maior que tenho, e acabo com metade dele em segundos. A outra metade eu deixo, tomo um gole bem servido e não engulo. Lembro de uma cena do filme "Nosso Lar", em que um rapaz precisa ficar o máximo de tempo que puder com a água na boca e então encontrará a cura. Aprendi com Chico Xavier que silêncio também é remédio. Engulo. Repenso todas as palavras que fervilham e querem sair, mas continuo calada e sigo a rotina impecavelmente.

Tomo um banho quente, quase fervendo, e faço do banheiro a minha sauna, como se pudesse respirar tranquilidade e me acalmar de dentro pra fora. Massageio meus ombros da forma que consigo, tentando deixar a água levar a tensão que tem me consumidos nos últimos dias. Termino o banho, vou para o quarto e fecho a porta que, infelizmente, não é tão grossa pra abafar o berros que Galvão ainda solta lá na sala. Escolho uma camisola confortável, pego o celular, busco uma música tranquila e descubro que preciso atualizar minha biblioteca. Nada ali serve para o meu propósito. Apelo para o Youtube e busco alguma playlist da Enya.

A voz dela me acalma. Coloco meus fones, aumento o volume e mergulho em doçura, afinação e silêncio. Fecho os olhos lentamente enquanto me ajeito na cama. Sento, cruzo as pernas, repouso minhas mãos nos joelhos e respiro fundo algumas vezes. Uma, duas, tr... Sinto meus pêlos arrepiando, sinto algo quente escorrendo pelo meu rosto e o gosto de sal que é familiar. Nada de soluço. Aquele foi um choro silencioso, mas seria impossível dizer que não foi doloroso.

Não me recordo de nada que tenha passado pela minha mente naquele momento, nem sei quanto tempo fiquei ali. Concluo que, talvez, tenha aprendido a esvaziar a mente naquela noite e sorrio agradecendo, mentalmente, a recomendação da amiga insistente. Lembro que acordei com energias, esperança e força renovadas.

Algo em mim nasceu naquela noite. Ainda não sei, com precisão, o quê ou como. Mas não sou mais a mesma.

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Sou agressiva, mas me ame. - Joyce Xavier e Fernanda Guiterio


Minhas noites não são caminhadas entre os asfaltos do meu bairro. Não quero ouvir o som das buzinas e as luzes dos faróis me irritam. Gosto da madrugada observando a mim mesma. Acendo um cigarro e preparo um café, minhas emoções são colocadas em exclamações. 

Minhas dores se transformam em interrogações, tornam-se feridas quando as reticências surgem entre suas palavras indecisas. Não meço amor dentro de mim, da mesma forma que não quero o nosso fim. Sento-me na antiga escada, observo o elevador e vejo que o seu lugar não é mais o meu andar, o andar que costumávamos sorrir. 

Hoje sento-me e seco as lágrimas que teimam em cair. Nada de sonhos e nada de planos para o futuro, só o meu velho computador com todos nossos passos. Algumas fotos nos porta-retratos, e o gato que era nosso me fazendo companhia. E por fim suas cartas que me fazem doer tudo que tenho em mim. Eu sei que te faço falta e minhas palavras de amor também, pena que elas foram fundo com a minha vontade de acreditar e ficar com você. 

Mas eu só quero que você me ame, assim desse jeito agressiva, perturbada e irritante, tá difícil.

Joyce Xavier e Fernanda Guiterio

19 dezembro 2016

Virgínia










É, ela disse que não queria mais. Não, ela não queria mais tê-lo somente por uma noite e ter que esquece-lo no dia seguinte. Ela não queria ter que dividi-lo com outras mulheres já que ele não quer se prender. Ele quer viver e deixar o natural acontecer. Ele é aquele cara mais velho que mora com os pais, tem sua profissão e pega umas ondas no verão. Ela não gosta de academia, vive na boemia e já dançou pelas baladas da vida. Ele é um profissional, trabalha com cores e flashes, e foi nas imagens da vida que ela o conheceu. Ela acorda cedo, ganha seu dinheiro e já fez sua presença para pagar a conta do bar. Ele nunca mandou flores, nunca a agradou com bombons ou com declarações. Ele sempre foi direto e quem o conhece sabe que ele é bem discreto. Ela já vive de rodeios e não se importa em expor o seu olhar.

Ela já havia dito não diversas vezes, ele não faz seu estilo e já viveu com a galera do perigo. Ela demorou pra ceder, tudo demorou pra acontecer. Uma vez ele apareceu pela manhã na porta da sua casa com o pão e ela deitada na ressaca não foi até o portão. Alguns dizem que ela o fazia de capacho, mas talvez ela sabia que iria se envolver. É, ela sabia. Seu coração já estava arrumado, tudo já estava no lugar e ela não queria alguém para bagunçar a paz que havia recuperado. Ele insistiu, é aquele tipo de cara que batalha até conseguir. Dispensa os amigos, sai escondido e vai até onde quer chegar. Ela já deixa tudo pela metade com medo do final, seus finais não foram felizes.

Depois de alguns emails e encontros com a ajuda do destino, ela se rendeu. A noite teve bis, dias se passaram e outras mulheres estão na concorrência. Ela é única, não existe outra com o mesmo CPF e a mesma essência. Ela não admitia ter um corpo dividido, da mesma forma que diz não dividir o seu (mentira, ela mente pra ele). Ele finge que acredita, mas também não se importa. Ela se afasta. Ele não se afeta e continua com a sua vida e mulheres. Ela não aguenta de saudade e o procura mais uma vez. Ele por sua vez, não iria recusar. Eles se encontram. E se afastaram novamente.

Os trabalhos de ambos ficaram mais frequentes, não havia espaço na agenda, não sobrava tempo suficiente para matar a saudade que ela sentia. Ela se focou, esgotou-se e se organizou. Ela nunca esperou por ele, mas todos que ela conhecia não a completavam, não a entendem e não a fazem enlouquecer. As viagens de ambos eram constantes, as conversas diminuíram nas redes sociais, o telefone já não tocava mais e ela percebeu que havia se fodido. Ela não havia encontrado outro alguém para por desordem na sua ordem. Ela recusa os convites, pois nenhum traz alegria. Nenhum a beija com o calor e a chama pelo seu nome, Virgínia.

Joyce Xavier.

15 dezembro 2016

Depois das porradas da vida, eu aprendi


Minha vida mudou e senti em mim que a vitória enfim chegou. Hoje percebo quem merece meu abraço, quem deve continuar ao meu lado e seguir meus passos. Hoje percebo que sou muito mais do que muita gente já disse por aí, hoje eu sei a mulher que sou e não me interessa saber da vida de quem não faz parte da minha.

Não sou mais feliz em fazer fofoca do outro, não tenho paz em infernizar a vida das pessoas que eu não gosto e não vou ficar mais rica em brigar. Silencio-me e deixo tudo em seu lugar, cada um no seu espaço e ofender o outro não me deixará mais livre. Eu não sou a certa, tenho milhares de defeitos, mas gosto das pessoas que assumem seus erros. Não me importo mais com as más línguas e ignoro as falsas amigas. 

Eu aprendi a selecionar quem deve continuar aqui comigo. Eu reconheço o carinho das pessoas que estão felizes por mim. Eu gosto de chorar abraçada com as pessoas que me amam de graça. Eu gosto da distância do mundo sujo e quem me quer por perto, sabe por onde me encontrar. Não, eu não sou boazinha, mas não planejo vingança. 

Distancio-me e sou guardada na lembrança de gente que eu não quero mais por perto. Aceito desculpas sinceras, peço desculpas e todas elas são sinceras, mas rejeito qualquer proximidade de gente que erra e depois quer ser certa e esperta.

Joyce Xavier.



13 dezembro 2016

Sou tão só para carregar meu mundo - Joyce Xavier e Rachel Carvalho


Sou tão só para carregar meu mundo. Sou tão só para observar gestos absurdos. Sou tão só para viver feliz e tão só nos meus dias tristes. Sou só por opção, nada que vejo me chama atenção. Talvez aquele que desperta minha emoção, está tão longe que só o encontro em uma linda canção. Sou só porque cansei de me doar. Sou só porque talvez eu tenha aberto as portas do meu lar para aqueles que não souberam me amar. Sou só, mas não sou infeliz. 

Sou só e não concordo com o que muita gente diz. Sou só porque me respeito e não mereço um mundo desonesto onde as pessoas são más. É isso, sou só por proteção. Porque também não gosto de ser peso para ninguém. Sou só porque confio na minha capacidade de assumir minhas responsabilidades, sou só porque acredito no velho ditado que antes só do que mal acompanhado. 

É claro que não sou uma ilha, nem uma ilha é completamente só, tem sua fauna e flora que convivem com ela; tenho os que me amam (os melhores), que me socorrem, me apoiam e me fazem rir, mas na maioria do tempo sou mesmo só e não reclamo, é escolha minha. Sou só porque aprendi a amar a mim mesma e a viver deliciosamente assim, em minha prazerosa companhia. Eu escolhi a solidão e aceito os meus defeitos. 

Gosto da solidão para me sentir livre e viver no meu mundo sem cobranças e opções duvidosas. Recolho-me sempre porque gosto de paz e só a encontro dentro de mim.

Joyce Xavier e Rachel Carvalho.




12 dezembro 2016

Ela não é mais a mesma garota. - Por Andressa Leal



Os sofrimentos a endureceram e ela não se orgulha disso, porém sabe que foi necessário parar de ser boba para seguir em frente, não foi preciso muitas coisas, três desilusões seguidas foram o suficientes para ela reconhecer o seu amor próprio, tirou de dentro de si uma vontade sem tamanho, se revestiu de esperança e saiu a brilhar, não entregava mais seu coração na mão de qualquer malandro – na verdade nem mais o seu coração entregava e se vangloriava disso.
Desde a última desilusão nunca mais nenhum marmanjo ousou pisar no seu coração, ela se fez forte por escolha e por obrigação, costuma dizer que a vida não lhe deu outra opção, encontrou o seu amor próprio quando não mais acreditava no amor e quando o encontrou entendeu que nenhum amor do mundo seria capaz de substituir aquele, viveu a experiência do amor próprio e começou a recusar qualquer coisa que diminuísse.

Quando garota já caminhou pela rua em dia de chuva e com lagrimas no rosto – a intenção de chorar na chuva é que ninguém notasse a sua dor, o chuveiro foi seu melhor amigo em dias de coração partido, aumentava o som e chorava como se não houvesse amanhã e quando alguém perguntava porque seus olhos estavam vermelhos, a desculpa sempre era que o xampu tinha caído nos olhos. 

Escreveu muita carta de amor nunca entregue, leu muito romance para ver se encontrava algo que suprisse a falta de amor, quando garota ela sonhava que o seu verdadeiro amor a reconheceria e que dessa forma seria preenchido todo o vazio. Depois do ultimo termino e das longas noites em claro chorando ela olhou no espelho e viu algo que a tempos não via, seu reflexo e por alguns instantes não se reconheceu, talvez porque carregava consigo tanto peso, tanta coisa desnecessária, porem decidiu que iria esvaziar e se livrar de qualquer coisa que não a acrescentasse.

Começou se livrando de todas as antigas cartas de amor que carregava, guardaria todas as experiências em seu coração, mas não se fazia necessário ter algo ali que lhe remetesse as dores passadas, colocou tudo em uma bacia e queimou, depois fez uma lista de todas as coisas que queria fazer, precisava traçar uma rotina, um novo caminho e precisava realizar sonhos, durante algum tempo ela fez essa faxina e acredito que se livrou.

Então ela percebeu que queria um amor que a transbordasse, conta gotas não a satisfazia, ela se amava demais para deixar que qualquer pessoa a ousasse bagunçar de novo, não precisava de mais desilusões para acrescentar experiência, hoje ela não era mais aquela garota que chorava com o travesseiro no rosto e o coração na mão, hoje ela é uma mulher que viveu a experiência de se amar e entendeu que é esse amor que acrescenta.

Hoje ela não é mais aquela garota repleta de ilusões, carrega um amor único no olhar e entendeu que todos os sofrimentos foram para o seu crescimento, naquele momento eles se faziam necessários, foi necessário longos dias de chuva para que se iniciasse a colheita. A garota entendeu que foi chegado o momento de se transformar em mulher, o sofrimento a amadureceu!
(Andressa Leal)


09 dezembro 2016

Eu dei a volta por cima



Durante um bom tempo andei triste e fui humilhada. Colocaram-me no chão e poucos foram capazes de estenderem a mão para me salvar. Meu coração estava despedaçado, disseram coisas que eu não havia feito, acusaram-me de ser uma pessoa desgraçada que estava acolhida projetando vingança.

Meu humor oscilava e na maioria das vezes meu sorriso não demonstrava alegria. Fechei-me num mundo só meu. Não atendia ligações, tinha medo das pessoas, dopava-me para não sofrer... É eu desejava morrer. Distanciei-me de muita gente, uns eram inocentes e não haviam motivos, outros pelo simples fato de me jogarem no perigo e gargalharem pelo meu fracasso. 

Senti-me usada (na verdade, eu fui), surtei e fiz mal a mim mesma, nunca quis atingir ninguém e sempre rezava para passar. Sim, a dor deveria acabar! Eu já não aguentava mais tanto deboche, não me perdoava por ter sido fraca e aceitar a malícia de gente que não sabe o que é amor. Gente que usa os corpos para se sentir melhor, gente que tem prazer de ferir o outro, gente que faz o mal por próprio gosto. 

Depois da ventania e da minha estadia no CTI emocional, restaram sequelas. Sim. Não sou tão louca, ando um pouco perdida e assumo a melancolia do dia a dia. Hoje ao caminhar com os verdadeiros amigos e receber toda a energia positiva, sinto-me melhor. Sinto-me feliz, sinto-me humana e sei quem verdadeiramente me ama.

Joyce Xavier

07 dezembro 2016

MOÇO DOS OLHOS D'ÁGUA - Por Giselle F


Saí mais cedo do trabalho naquele dia, sabendo que chegaria a tempo do trem das 21h15. Passos rápidos, quase corri. O motivo? Não faço a menor ideia.

Ao chegar na estação subi a rampa, passei na catraca e parei no começo da escada. — Droga, tô apertada, preciso ir ao toalete. — Dei meia volta e lá estava eu, já lavando as mãos. Pronto. — Esqueci a bolsa lá dentro, saco. — voltei. O blá blá blá comum dos banheiros femininos foi interrompido pelo barulho que vinha dos trilhos — Droga, droga, droga. Perdi o trem. — Passos lentos me levaram até a escada e, enquanto subia degrau por degrau — desviando dos mal-educados, pensando nas caixas pra abrir, nos móveis empoeirados e na pia cheia de louça pra lavar me esperando em casa — olhei pra cima. O motivo? Também não me pergunte, mas olhei. Foi quando o vi pela primeira vez. 

Alto, pele clara, cabelos negros, lisos e bagunçados. Mas foram os olhos, ou melhor, foi o olhar que me prendeu. Aquele mar azul decorado por longos cílios negros me congelou. Os passos que eram lentos agora quase me arrastavam escada acima. Desviei — Não precisa encarar, né. Se toca —, mas num movimento espontâneo e incontrolável, olhei pra baixo e lá estava ele, parado no pé da escada a me observar. Foram segundos, talvez apenas alguns milésimos deles. Do tempo não me pergunte, perdi a noção. Mas por algum motivo que ainda não descobri, ficamos ali, parados, congelados numa infinita troca de olhares. Ele, azul-piscina. Eu, ébano. Um encontro azul-marinho. Nenhuma palavra dita, apenas um sorriso tímido surgiu em seu rosto e eu, também sem graça, retribuí.

Alguém esbarrou em mim.

Voltei à realidade, virei o rosto e continuei meu caminho, desejando voltar e dizer algo. Mas o que diria? Não queria ser a louca que persegue olhares e pessoas em estações de trem. Não disse nada e segui. Só depois, já em casa, pensei no chefe que me liberou mais cedo, nos passos rápidos sem motivo aparente, na ida incomum ao toalete da estação e da bolsa esquecida no balcão.

Se não fosse por isso, talvez nunca tivéssemos nos encontrado — Por que não falei nada? Por que ele também não falou? Um nome, pelo menos, alguma coisa. — O motivo do encontro eu também não sei e é pouco provável que um dia eu descubra. Não procuro, não corro nem espero, mas todos os dias, no mesmo local, secreta e esperançosamente desejo encontrar, mais uma vez, aquele olhar me fitando do pé da escada. Mais uma vez, o sorriso tímido. Mais uma vez, ele.

O moço dos olhos d'água, ainda sem nome.

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Sonhos e realizações - Joyce Xavier e Juliana Daglio


Alguns sonhos eu deixei pelo meio do meu caminho torto. Absorvia falatórios que nunca me arrancavam suspiros, os dizeres nada incentivadores criavam lágrimas. Perdi tempo em não lutar, fui fraca ao chorar e hoje sei qual destino está a me esperar.

Com o tempo notei, não sem dores e paradas obrigatórias, que certas expectativas geravam trevas nos meus sonhos iluminados, distorciam suas formas e me faziam desacreditar. Expectativas estas que eu insistia em terceirizar, tola, sem perceber, que a verdadeira fé deveria ser depositada em minha própria capacidade de realizar.

Aos poucos comecei a ignorar certos deboches e piadas, nunca quis mostrar nada pra ninguém, eu sempre quis a felicidade de um sonho realizado e não satisfazer as vontades alheias. Meu sonho já foi motivo de risada, de gente que hoje percebo que nunca me serviu pra nada construtivo, e ao realizá-lo vejo que os humoristas não demonstraram nenhuma emoção. Ninguém na verdade queria me ver crescer e hoje surpreendo com tudo que eu mesma me dediquei para acontecer.

A vida me mostrou que o que importa mesmo é o que vem do coração, e que nada do que eu fiz passou longe dele. Se hoje posso subir nas nuvens, é porque já conheci bem a sensação de ter meus pés no chão, e consegui olhar para os meus recursos e construir minhas escadas. Aos que me apoiaram, dedico esse momento. Já aos que ficaram de fora, desejo que um dia possam entender o poder transcendente de uma vitória merecida.

Hoje estou aqui, orgulhosa de mim e grata aos que me ajudaram. Levanto a bandeira da minha vitória, choro de felicidade e sei que todo sonho pode ser realizado. Além da fé, devemos lutar por ele e abrir mão de certas vontades, pois não há nada mais saboroso do que sentir o meu coração acelerado.

Papel e tinta provam que cheguei até aqui, mas é muito mais que isso. Foram a palavras jogadas ao vento, impressas agora, que ganharam poder e fizeram tudo acontecer. Minhas palavras, tão queridas e desejadas. Então, deixo essa mensagem a quem quiser ler: vale à pena crer nos seus sonhos. Vale a pena olhar pro coração e obedecer seus instintos, ceder à inspiração que brota dos dedos através da alma. E essa alma pode ser a sua.

Joyce Xavier e Juliana Daglio.

Conheçam o trabalho da Juliana Daglio >>> Menina Libélula

06 dezembro 2016

Na real, ele não é isso tudo! - Por Rachel Carvalho








Bora bater um papo sério agora! Pega a foto dele, aquela que você tanto gosta, e olha mil vezes, mais outras mil além das que você já olhou. A gente sabe que ele não é isso tudo que seus olhos abobalhados veem. Olha direitinho, de verdade, tua carência e/ou tua paixão está idealizando muita coisa que não existe. Não que a aparência seja tudo, mas quero começar por essa parte. Ele é cheio de defeitos físicos. Sabe aquele rigor que você usa pra se autoavaliar no espelho? Usa nele. Deixa de olhar pra ele como se fosse um deus grego e você a maior sortuda do mundo em tê-lo do lado. Já sei que você está lembrando agora como adorava andar de mãos dadas com ele, com todo o orgulho de mostrar para o mundo que aquele homem era seu. Heeey! Me poupe, se poupe, nos poupe. Você que é linda, cara! Inteligente, forte, decidida, carismática. Você que arrasa. Você que é olhada onde chega, mana! Mas você não enxerga. E ele é um burro envaidecido pelo superego que você ajudou a criar. Cego, nunca percebeu a sorte grande que é te ter como companheira. Sério! Ele é um babaca, vamos concordar. Indeciso. Perdido. Fraco. Um moleque. Nem na personalidade ele é o cara que você superestima. Tá bom, não é o pior da face da terra, ele é até legalzinho, mas você está desperdiçando tanto esforço por alguém mais ou menos? Pouco atencioso. Responde tuas mensagens esporadicamente, e estende a conversa só quando é do interesse dele. Jura que você está encantada por isso? E o sexo? Ah, vá! Ele já te fez umas boas raivas, não fez? Ele pensa mais nele, não é? Sei que você está lembrando aí de umas coisinhas chatas que lhe incomodavam mas que você não dizia pra não chateá-lo. Deveria ter dito, pra ele diminuir um pouco o ego inflado e ser melhor um pouquinho nas próximas. Ele te pediu um tempo? A gente espera por quem não pode estar junto da gente mas moveria céus e terra se pudesse. Não quem não sabe o que quer, quem não sabe inclusive se quer você. Vai mesmo perder seu tempo esperando por alguém assim? "Eu preciso de um tempo" pra mim significa "Vou ali tentar outros caminhos, se não der certo, volto pra você". Você vai mesmo estar lá, boba, aguardando? Toma umas três doses a seco de amor-próprio! Você é boa demais pra isso. Você é foda demais pra desejar como uma lasanha em dia de dieta alguém bem pão com mortadela. Nada contra o sanduíche barato, ele é até uma delícia, em dias de fome, querida! Se sacia de autoconfiança que eu quero só ver você nem pensar em quem só matava tua fome, e nunca tua vontade. - Rachel Carvalho

05 dezembro 2016

Ela é solitária e não vale nada



Ela diz ser um ser humano sem defeitos e a dona da razão. Não tem piedade de falar sobre pessoas fofoqueiras, mas continua ao lado da sujeira. Tornamo-nos a fruta mais podre das demais quando não evitamos os desleais. Fala a verdade, mas não gosta de ouvir. Debocha da felicidade do distraído e esconde o passado percorrido. 

Faz-se de coitada e procura os outros para fazer piada. Vive um romance dissimulado para esquecer o apodrecido que a fez sofrer. Cala-se ao seu lado, mas ao virar as costas estampa seu nome em sangue no auditório. Seu escritório é cercado de vidas que ela gostaria de ter, seus clientes são pessoas que gostaria de ser. 

Julga a solidão de quem ama viver só, mas esquece de suas companhias a tornam um ser pior. Pior do que eles, pior para si mesma. Gargalhou ao saber que seu vizinho é músico. Desacreditou no sonho do primo skatista maluco. Reprovou o namorado da irmã. Esnobou o salário do namorado. 

Condena os sonhos de quem lhe quer bem, mas não luta pelos seus. Prefere ser solitária ao lado de gente que, pelo que ela mesma diz, não vale nada.

Joyce Xavier 

04 dezembro 2016

Colecionar arrependimentos, não é o meu forte. - Por Marcely Pieroni













Não é tão incomum assim eu me sentir meio perdida. Sem chão. Vez em quando eu faço um esforço danado para voltar acreditar que ainda existem possibilidades a serem desvendadas. Mania de quem tem fé na vida. Nas pessoas e ainda almeja histórias melhores. Não desisti de encontrar novos sabores. Não parei de arriscar. Sou impulsiva demais para me dar por vencida. Os nãos sempre servirão de incentivo. Chorava calada quando não tinha ninguém olhando e na manhã seguinte já estava pronta para outra.

Tenho sede de aventuras. Não meço as consequências. Saio me atropelando por aí e na pressa acabo pagando um preço por isso. Mas vale a pena. O sacrifício maior seria abdicar de toda essa loucura. Se não for realocar todas as minhas convicções, não me chame para dançar.


Não me importo com o mal tempo. Se tem trânsito. Os empecilhos quem cria é você. Eu vivo colecionando momentos. Uns mais pacatos e serenos e outros mais travessos e desorganizados. Preciso testar meus limites continuamente, gosto de arrepio na espinha. Se for para embalar um mais eu menos eu deixo passar.

Não quero estagnar. Ainda é cedo. Tenho muito o que desbravar. Não me venha com roteiros ensaiados e desculpas prontas. Eu não te pedi nada. Posso dar conta de mim e de minhas manias estranhas. Venço batalhas incríveis todos os dias e quase ninguém vê. 

Não faço questão de chamar atenção, é em passos silenciosos que vou seguindo rumo em novas direções. Preciso de mais tempo comigo, de mais borboletas me revirando o juízo. E o mais importante: preciso perder o medo de soltar o freio de mão. Não dá para viver contendo o que sente vontade. 

O tempo urge e colecionar arrependimentos não é o meu forte.

Marcely Pieroni
 

01 dezembro 2016

As pessoas mentem - Por Joyce Xavier e Noemi Prates



As pessoas mentem. Desde a criação do mundo. Saíram do mudo para cuspir mentiras. Omitem detalhes para não magoar, soltam flores dos lábios, enquanto julgam no secreto. Todo mundo mente ou já mentiu. Não dá pra ser sincero o tempo todo, mas é a tentativa que nos enobrece. Criam lendas para conquistar, se embalam na falsidade e agarram bruscamente a primeira oportunidade para dançar sob suas conveniências. 

Mentir é ser egoísta. É não ter piedade da aflição humana. É expor como giz o que poderia ser tatuagem. É se drogar de ilusão sem se preocupar com o coração. É como lançar borboletas em vez de fogo. Narizes não crescem quando se mente, mentir diminui a gente. Ficamos à mercê de manipulações alheias, sempre jogando com nossas certezas. 

Mentir aniquila a confiança, despedaça a lealdade e tortura a crença. Mentir traz indiferença quando descoberta, é ferida aberta que não cicatriza. Mentir escraviza quem mente e seu decreto de alforria é o ímpeto da língua em salivar verdades, que em sã consciência, nunca seriam ditas. E quando descobrem o valor de sua vítima, rastejam-se como cobras implorando o perdão banhado de veneno. Insistem em pintar seu caráter de integridade. 

Derramam lágrimas corrompidas para sensibilizar. Decretam novos horizontes, suplicam por nosso olhar amoroso, enquanto o coração desacredita da hipocrisia suplicando absolvição.

Joyce Xavier e Noemi Prates