28 março 2017

As marcas do meu corpo. Violência doméstica


Lembro-me da primeira vez que você me feriu. Não fiquei com marcas pelo corpo, marcou a minha alma, o meu coração. Lembro-me que me fez vesti-lo para uma festa e não me deixou ir com você. Pediu para que eu fosse mais tarde, que chegasse depois. Não éramos namorados, eu te amava e você apenas, me usava. Procurava-me para sentir prazer ou até mesmo, quando estava sem dinheiro. Era puro interesse e eu, fui uma mulher boba. Então, eu fui.
Chegando na festa, você me disse que a sua ex estaria lá. Quando ela chegou, senti um frio na barriga e fui embora sozinha. Você, foi embora com ela e durantes algumas semanas, ficou distrante. Com ela.
Eu chorei muito, sabia? Chorei demais. Chorei até a alma gritar por socorro. Chorei calada no meu travesseiro. Chorei pro mundo ouvir. Mas ninguém ouviu.
Logo depois, você me procurou novamente. Eu boba e inocente, aceitei as suas desculpas. Parecia que eu estava enfeitiçada. Todos os meus amigos falavam sobre você e eu, tentando culpar as pessoas por erros que eram cometidos por você mesmo. As pessoas se afastaram de mim, briguei com o mundo, acusei todos e no final, me deixou somente com marcas pelo corpo, que um dia irão sarar. Mas aquele momento terrorista, jamais irá sair da minha memória.
Depois de tanta luta, resolvemos assumir um relacionamento. Até que a primeira agressão aconteceu. Na casa de pessoas queridas. Um soco no rosto, apenas um soco me fez ir nas nuvens e sentir uma dor horrível. Você nunca me respeitou, mas as minhas palavras pesadas, não doem tanto como a sua porrada.
Chorei durante uma semana. Resolvi aceitar as suas desculpas.
Depois de voltar contra a vontade da minha família e dos meus amigos (mais uma vez). As primeiras semanas são maravilhosas. Tudo em perfeito estado, até surgir uma nova agressão: tudo culpa da cerveja. Eu com o meu jeito abusado e prepotente, não se calava com medo do seu jeito agressivo. Então, mais uma vez ocorreu. Mas dessa vez, fiquei em silêncio.
Tudo voltou como antes.
Mas quando acontece a primeira agressão, abrimos a porta para que aconteça mais uma vez. Não adianta fugir do inferno, se você abre a porta pra ele. Se você mesma se propõe a isso. E foi o que aconteceu comigo. Deixei-me levar pela emoção, pelo comodismo e pelo amor. Deixei-me levar pela esperança de uma vida melhor, dos planos anotados na agenda, das juras de amor ao pé de ouvido e do meu fantástico mundo perfeito, que criei somente na minha mente, na minha cabeça.
Uma bela noite, você resolve sair para beber. Eu resolvi fazer o mesmo. Ambos em lugares diferentes, mas você, infelizmente, chegou primeiro em casa. E com aquela raiva que já me consumia, resolvi te provocar. Fingi que estava falando no celular. Foi quando conheci um monstro, foi quando percebi, que você não era o que eu pensava (ou eu mesma já sabia e tentava esconder tudo de mim mesma).
Primeiro foi um soco na cara, depois, o celular no chão. Em seguida um empurrão que me fez cair em cima do meu óculos e vários socos. Muitos, inúmeros, diversos. Tentei sair, implorei e gritava de tanta dor. Ninguém me ajudou. Ninguém ouviu.
Consegui correr e abrir a porta, mas não alcancei o portão. Fui puxada pelos cabelos até dentro de casa, foi quando a televisão caiu e fui jogada na cama, sendo assim, minha cabeça bateu muito forte contra a parede. E eu só enxergava o pedaço de madeira na frente. Eu só ouvia você mandar eu calar a boca. Eu me calava.
Consegui sair de casa e ligar para a minha mãe. Inventei uma historia doida e ainda fiquei dois dias dentro da mesma casa. Dessa vez, não em carcere privado, mas por opção mesmo. Queria ficar uns dias para ninguém ver as marcas do meu corpo. Mas cada pedaço daquele lugar, me lembrava a cena de terror que eu tinha passado. E o meu medo de morrer, falou mais alto.
Depois de me bater, me abraçou, me ajudou a passar pomada nos machucados. Em toda a parte roxa do meu corpo. Ainda pegou água para eu tomar o meu remédio e eu consegui dormir. Era a noite. Acordei pelo meio da madrugada, mas você não estava. Não apareceu até a noite do dia seguinte, foi quando eu decidi que era a hora de partir. Qualquer dia eu acabaria morta, e você, preso.


Já chorei tudo que eu tinha pra chorar. Sinto uma grande vontade de ter a minha vida de volta, de voltar ser a mulher que eu era sem você. Não me arrependo de ter te conhecido. Não me arrependo de nada. Só tenho uma necessidade de ser feliz, de sorrir novamente. Infelizmente as marcas do meu corpo ainda doem e preciso me recuperar. Eu sei que logo isso irá passar.

Joyce Xavier - Trecho do livro "Depois da última lágrima".

21 março 2017

Homem tem que ter atitude - Rogério Oliveira e Joyce Xavier



Se for pra ser, que seja direito. Sem meio termo! Sem lenga lenga e disse me disse. Comigo é assim, ou vem pra modificar e fazer a diferença ou nem precisa vir. Eu quero que seja de verdade. Passei da fase do banho-maria, de me deixar levar pela carência e falta do que fazer nas noites de tédio.

Estou sem paciência para as inverdades ditas, para as saídas inúteis e promessas que jamais serão cumpridas. Não tenho tempo, meu coração não espera e por mais que eu tenha um pouco de pressa, quero o verdadeiro. Meu interesse maior, é encontrar o coração que também está tão perdido quanto eu. 

Sigo Cazuza: ''Eu quero a sorte de um amor tranquilo, com sabor de fruta mordida.'' E que seja furacão e calmaria, na mesma intensidade. Que me torne o que eu nunca fui e desperte o que eu sempre quis. Que me cause as melhores sensações e delicias que só alguém de verdade é capaz de propor.

Que me faça recitar poemas, que me resgate da melancolia diária, que venha para saciar as minhas vontades, que me dê um pouco de liberdade, me aprisione nos braços e me transmita segurança. 

Esgotei-me dos embaraços e dos meus pés descalços que se esfolaram de calçar a alegria de ter uma companhia, quero derrubar a solidão que mora em mim, na verdade eu quero um amor sem fim.

Rogério Oliveira e Joyce Xavier

16 março 2017

Seu ex é meu atual. E daí?


Durante tanto tempo, você foi o inferno da minha vida. Eu ficava insegura, pois em qualquer briguinha, ele iria correndo para os seus braços. E quando brigava com você, vinha para os meus. Acredito que nessa histórias, somos vítimas. Qual o homem que não quer ter um aconchego, quando entra em algum desespero? Machismo e sentimento de posse, também estão inclusos em tudo isso.
Mas o tempo passou, eu segui a minha vida. Você também seguiu a sua, vejo que está feliz e o seu sorriso, diferente. Tem luz nele. Mas será que tem?
Enquanto isso, o seu ex resolveu criar uma vida comigo. Deixamos o passado para trás, tanto os erros dele, quantos os meus. Não sou santinha e dou a cara a tapa.
Sinto que você não ficou muito satisfeita. Mas na história, eu não fui burra. Ele te amava muito, eu era apenas a diversão. Ele me deixava esperando para te encontrar, ele me fez chorar por causa de você. Algumas vezes, eu queria que ele sumisse, pois assim, ele sairia da minha vida. Mas quantas vezes você o deixou escapar, e eu sem pedir, ele voltava pra mim?
Você fez tudo para mantê-lo perto: inventava histórias, gravidez e muito inferno. A única coisa que conseguiu, foi deixá-lo longe todos os dias. Eu não roubei nada de você, você me deu ele de presente de mãos beijadas. Você carimbou na teste dele “SOLTEIRO” e o jogou na vida. Eu só agarrei para ser feliz.

E mesmo depois de tudo, me procurou para falar mal dele. Disse coisas horríveis que não esqueço. Até mesmo, que eu não conseguiria realizar meus planos, ao lado dele. Bem, se ele é um bicho, não sei o motivo da sua procura atualmente.
Mantenha distância dele, de mim e de nós. Se fosse tão feliz com o seu marido, como diz para as pessoas próximas, iria guardar o passado na caixinha de lembranças. Viva o seu presente. 

Joyce Xavier