16 novembro 2016

Meu inimigo mora em mim





Guerras sempre acontecem, mas a pior guerra é aquela que convive na nossa mente, no nosso coração e em nós mesmos. É complicado ser julgada, se também usamos a nossa língua para julgar. Seja em algum momento de raiva ou talvez de más interpretações. Já julguei, já me equivoquei, já mantive maus pensamentos, já me precipitei com atitudes, já me ceguei com amores e amizades. Não sou a mais correta, porém, não me julgo a mais falha.

Talvez este meu jeito espontâneo, incomode algumas pessoas. Umas talvez queiram ser como eu, outras apenas querem estar próximas e algumas querem fazer parte da minha felicidade. Muitas delas gostariam de estar no meu lugar, mas com certeza nenhuma desejaria carregar a bagagem de histórias, melancolias e dores que eu carrego. 


Durante um longo tempo, mantive-me distante do mundo e próxima a mim mesma. Revi conceitos e ceguei-me para ler qualquer atitude inventada, qualquer fábula que eu me sinta desorientada. Pedi perdão a mim mesma por ser tão cruel em algumas atitudes, por não ser tão racional e explodir somente o meu lado emocional. Se a vida é um jogo, eu sempre irei perder. Não sei jogar, não quero ultrapassar o adversário com os dados lançados por mim. Não quero dar doze passos adiante e regressar vinte e quatro. Minha vida não é um tabuleiro, minha vida é real. 


Uma vez me jogaram nas trevas, morri e renasci mais forte. E há pouco tempo tentaram me jogar novamente, uns me alertaram, outros apoiavam a minha presença por comodismo e alguns não opinaram. Voltei por diversas vezes ao mesmo local e já não sentia a mesma excitação, despedi-me e tornei-me livre. Não assinei meu óbito, não sou uma fracassada e não cheguei até aqui por plena palhaçada. Não fiz guerra, mas ali não era o meu lugar.


Não entro em batalhas, não sou usada, não quero ser fantoche e muito menos boneca de alguém. Entro e saio pela porta da frente, não sou mulher de fugir pela janela ou me esconder, mas nos dias de hoje eu mereço me preservar. Hoje quem está ao seu lado, amanhã pode te matar. Sou ousada, mas não uso facas e deixo que o demônio seja queimado no fogo da sua moradia.


Não tenho armas, não quero guerras e não te procuro pela madrugada. Fugi dos olhares macabros, mas peço que não pergunte sobre mim, eu não voltarei para as farpas dos seus laços.


Joyce Xavier

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