02 novembro 2016

Eu vou ficar bem. E você também. - Por Marcely Pieroni



A cama bagunçada, você sentado numa ponta e eu na outra. Cabeça baixa, coração inquieto e as suas coisas espalhadas pelo chão. Não dava mais. Eu sabia. Você também. Mas no fundo a gente insistia. Fazia de tudo para contornar a situação e tirar uma nova chance da cartola, mas hoje pela primeira vez, não tive forças nem vontade. Fechei os olhos e respirei fundo. Desejei que se afastasse sem perguntar demais. Sem remediar com frase feito o buraco que havia entre nós. Você me olhou em silêncio por alguns instantes e soltou um : -Você vai ficar bem? 

De verdade? Eu não fazia ideia do que responder. Pensei que piorar fosse muito azar para uma pessoa só. Daí lembrei de você afastando o cabelo dos meus olhos e me envolvendo em seus braços quando a chuva apertava e os trovões não davam trégua e instantaneamente eu me sentia segura dentro do seu abraço. Pensei em não me sentir assim outra vez e isso desesperou. Fiquei pensando nas madrugadas em clara de pernas e dedos entrelaçados enquanto a nossa respiração combinava e a vida ali fora se fazia melhor, mais acessível. Eu não fazia ideia de como tudo seria ao me desvencilhar de nós. Esquecer numa gaveta os sonhos que começamos ainda me fazia arder em saudade imediata de quem sabe que deve ir e ainda não tem coragem suficiente de fazer as malas para partir. Eu quis tanto ter respostas e o que me bastou foi um "estou bem e você também estará". 

Ainda que não houvesse certeza, havia uma disposição danada em me encontrar comigo outra vez. Ainda que também houvesse um medo gigante de estar fazendo tudo errado ao te deixar ir sem insistir. Mas era momentâneo. Porque logo eu me lembrava da surra que estávamos dando na gente e respirava aliviada por vê-lo ir. Sobrava espaço pra você na cama, mas faltava na minha vida. É sério. 

Eu vou ficar bem. E você também.

Marcely Pieroni

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