02 outubro 2016

Já vai tarde - Diego Augusto




Me afastei quilômetros do seu sorriso e cheguei num lugar tão calmo e sereno que avistei a paz. Também pudera! Descobri que nosso sentimento era oco e a casca que envolvia suas juras proferidas era frágil demais para investir tempo e expectativas. Espero que você tenha ido com Deus, mas sobretudo, que tenha ido pra sempre bem distante do meu olhar. Com você alcancei a vitória acumulando derrotas. Perdi tempo, perdi o rumo e até mesmo a noção, mas ganhei! Ganhei espaço com sua ausência, ganhei expectativas e acumulei experiência nas páginas do meu manual que gerencia o modelo de ser o que eu sempre quis – livre para trafegar num horizonte sem fim nem delimitação daquilo que se julga reprovável, proibido ou permitido com restrições.

Juras em vão eram ditas sem contexto no nosso clipping cotidiano, amor eterno que durava horas ou dias era a nossa manchete. Seu estilo de encarar a vida sempre foi o gabarito que balizava o "modo" correto de agir. Num dia você adorava tudo aquilo que no dia seguinte te causava vômitos e em meio ao seu conflito só me restava vestir o meu colete a prova de variação de humor. Te agradar se tornou mais complexo que mudar os rumos econômicos do Brasil. Tentei te entender e fui reprovado na matéria que você julgava pertencer à categoria sênior – sendo completamente pueril.

Cheguei à conclusão que nosso lance não era amor e nem tão pouco paixão, mas uma espécie de costume. Tínhamos horário certo para efetuar as ligações em que nosso papo nem era mais furado, mas sim decorado, perguntando sobre as ocorrências do dia, já sabendo a resposta: "normal e o seu?" Verdadeiro pleonasmo sentimental!

Ludibriamos nossa mente levando-a ao equivoco – se não fosse o amor já teríamos chutado o balde (crença falha que embasou nosso enredo). Na verdade era pura preguiça de tentar o recomeço ou simplesmente medo de mudar o rumo. O ser humano sempre tem fobia de mudança... "tá ruim, mas está bom", "ruim com ela e pior sem ela", "vote no Tiririca, pior que tá não fica". Esses lemas vão indicando que mudar pode ser perigoso, nos distanciando léguas da posterior bonança.

A verdade nunca esteve a venda, mesmo assim você sempre se julgou dona dela e espalhava por ai as regras de um jogo que só você poderia vencer. Um misto de prepotência e orgulho em doses cavalares, altamente inadequado ao consumo humano. Verdadeira área de lazer para praticar brigas e cravar a bandeira do "quem você pensa que é?!".

Ser mesquinho é isto! Desprezar as particularidades alheias e não reconhecer a diferença entre seres da mesma espécie. O mundo anda intolerante porque a melhor raça é a minha, o melhor gênero são os dois concebidos, masculino ou feminino (nada e nenhum outro), o melhor time é aquele que torço e se houver grito contrário – tiro, porrada e bomba! Desprezar o oposto é lei, mas ser desprezado é ofensa gravíssima que faz jus a penalidades máxima.

Nenhuma ferida é eterna, a lei da superação é efetiva e benéfica, nos faz crescer e desenvolver mecanismo de evolução. Muitas vezes desconhecemos os motivos de vivenciar fases turbulentas, mas a posteriori, compreendemos que a vida é um verdadeiro quebra cabeça onde cada peça se encaixa.

Tenho certeza que o meu destino está traçado rumo a glória, cabe a mim percorrer a rota sem iludir com os atalhos, sem colidir nos retardatários. Preciso inundar o poço da minha alegria e fazer transbordar meu melhor sorriso, mas, definitivamente sua fonte não oferece a vazão necessária, ela não passa de um volume morto.  

Diego Augusto


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