05 outubro 2016

Vai saber - Por Marcely Pieroni









Eu não sentei pra conversar. Não sei a cor que você mais gosta nem a sua banda preferida. Posso chutar o time do coração e paramos aí. Não prestei atenção na forma que você fala, nem reparei que vive gesticulando para se fazer entender. Eu estava ocupada respondendo algumas mensagens que quase não notei o seu olhar desavisado esbarrando no meu. Pedi licença com um sorriso e sai. 

Enviei solicitação de amizade no Facebook e você aceitou. Achei estranho estar checando seu estado civil e me preocupei de verdade quando comecei a procurar a data do seu aniversário - fui checar o seu signo. Mais esquisito ainda foi estarmos em setembro e estar visualizando suas postagens do Natal passado. Continuo não sabendo a cor que você mais gosta nem a sua banda preferida, mas vi que gosta de açaí e vez em quando esquece a hora de voltar pra casa por estar por aí rindo com seus amigos. Mania de querer ir além da casca. De bater sem pedir licença pra chegar nas entranhas de suas verdades. 

Eu acredito que tivesse sido mais fácil sentar pra conversar, pouparia a vista cansada e a imaginação fértil que a essa altura já desenhou uma série de histórias malucas e já desvendou alguns segredos obscuros. Quer apostar? Moço seu riso estremeceu a bagunça desse lado. Ficou arquivado na memória recente de instantes que normalmente não filtro, mas a vista capta e absorve. Poderia jurar que eu estava distraída mas a riqueza de contornos que a memória puxa diz o contrário. Eu sei que é loucura. Eu poderia escrever num Post It o meu telefone e deixar colado no para brisa do seu carro e ainda soaria esquisito. É como jogar no escuro. Sentir um estalo e esquecer por completo a realidade que abraça. Embarcar nesse faz de conta imediato só pra descobrir se seu abraço iria mesmo me arrepiar a espinha. Coisas sem sentido que afloram o desejo e despertam a vontade de ficar perto. 

Talvez seja a mente criativa de uma moça que anda lendo romances demais, se fosse noutros tempos eu já teria fechado os olhos e ido. Mas gato escaldado acaba aprendendo a ter medo de água fria e nesse cenário atual qualquer sofrimento poupado vale o esforço. Embora eu esteja com o Band-Aid e as ataduras na outra pensando se salto agora ou espero mais um pouco. Vai que eu te assusto. Vai que você me ganha e a gente se perde.

 Vai saber.


Marcely Pieroni

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