19 dezembro 2016

Virgínia










É, ela disse que não queria mais. Não, ela não queria mais tê-lo somente por uma noite e ter que esquece-lo no dia seguinte. Ela não queria ter que dividi-lo com outras mulheres já que ele não quer se prender. Ele quer viver e deixar o natural acontecer. Ele é aquele cara mais velho que mora com os pais, tem sua profissão e pega umas ondas no verão. Ela não gosta de academia, vive na boemia e já dançou pelas baladas da vida. Ele é um profissional, trabalha com cores e flashes, e foi nas imagens da vida que ela o conheceu. Ela acorda cedo, ganha seu dinheiro e já fez sua presença para pagar a conta do bar. Ele nunca mandou flores, nunca a agradou com bombons ou com declarações. Ele sempre foi direto e quem o conhece sabe que ele é bem discreto. Ela já vive de rodeios e não se importa em expor o seu olhar.

Ela já havia dito não diversas vezes, ele não faz seu estilo e já viveu com a galera do perigo. Ela demorou pra ceder, tudo demorou pra acontecer. Uma vez ele apareceu pela manhã na porta da sua casa com o pão e ela deitada na ressaca não foi até o portão. Alguns dizem que ela o fazia de capacho, mas talvez ela sabia que iria se envolver. É, ela sabia. Seu coração já estava arrumado, tudo já estava no lugar e ela não queria alguém para bagunçar a paz que havia recuperado. Ele insistiu, é aquele tipo de cara que batalha até conseguir. Dispensa os amigos, sai escondido e vai até onde quer chegar. Ela já deixa tudo pela metade com medo do final, seus finais não foram felizes.

Depois de alguns emails e encontros com a ajuda do destino, ela se rendeu. A noite teve bis, dias se passaram e outras mulheres estão na concorrência. Ela é única, não existe outra com o mesmo CPF e a mesma essência. Ela não admitia ter um corpo dividido, da mesma forma que diz não dividir o seu (mentira, ela mente pra ele). Ele finge que acredita, mas também não se importa. Ela se afasta. Ele não se afeta e continua com a sua vida e mulheres. Ela não aguenta de saudade e o procura mais uma vez. Ele por sua vez, não iria recusar. Eles se encontram. E se afastaram novamente.

Os trabalhos de ambos ficaram mais frequentes, não havia espaço na agenda, não sobrava tempo suficiente para matar a saudade que ela sentia. Ela se focou, esgotou-se e se organizou. Ela nunca esperou por ele, mas todos que ela conhecia não a completavam, não a entendem e não a fazem enlouquecer. As viagens de ambos eram constantes, as conversas diminuíram nas redes sociais, o telefone já não tocava mais e ela percebeu que havia se fodido. Ela não havia encontrado outro alguém para por desordem na sua ordem. Ela recusa os convites, pois nenhum traz alegria. Nenhum a beija com o calor e a chama pelo seu nome, Virgínia.

Joyce Xavier.

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