23 setembro 2016

Eu tenho depressão


E assumir a doença, não é fácil. É beber a vergonha como café quente pela goela abaixo, é se sentir oprimida com os olhares, é ter muita força de vontade para assumir o que na verdade, nos faz querer sumir.

Não posso escrever sobre a depressão do mundo, mas posso detalhar a minha, que me mata constantemente pelas oscilações que vive. Pela roda gigante emocional que gira sem parar e quando pára, é uma surpresa. Pode ser aquele dia de luz ou até, aquele dia que a sua cama é a companhia que mais te traz conforto. 

Tem gente que já disse, que a minha depressão era frescura. Era coisa de "mulher mimada". Já disseram, que era uma forma de chamar atenção e já ouvi dizer também, que era coisa de "maluco", que eu era louca e precisava me internar. E no fundo disso tudo, eu percebi que ninguém conhece mais a loucura, além daquele que sente uma dor insuportável todos os dias e nem sabe o motivo dela. 

Eu cometi um grande erro, eu rejeitei o tratamento, mas assumi a doença. Acho-me corajosa com isso, porque é uma luta diária comigo mesma. É uma batalha que só cabe a mim vencer e um cansaço que dá vontade de morrer. Não sou forte todos os dias, só uso um escudo para me proteger e tenho que assumir: a cada dia que passa, ele pesa mais. 

E com isso, vou vivendo no sarcasmo, aceitando quem eu sou, ironizando as minhas derrotas e debochando dos meus defeitos. Assim vou vivendo a minha vida, abraçando quem me ama e até sendo injusta, por opiniões diferentes ou até mesmo, com essa minha mania de querer abraçar o mundo, enquanto não consigo controlar os meus problemas emocionais. 

Tenho dias que eu mesma não aguento. Fico intolerante e impaciente. Fecho a porta do meu quarto e fico olhando para o teto. Choro também. E rezo para que a dor passe, para que eu consiga respirar aliviada e curar as feridas que existem em mim. E também, saber lidar com as pessoas más que me cercam. Mesmo querendo morrer em todas as minhas crises, eu tentei o suicídio somente uma vez. 

Mesmo com todas as dores, eu continuo caminhando sim, com os meus pés feridos e às vezes, com uma agonia insuportável no peito. E continuo acreditando nas pessoas, mesmo com as cicatrizes que às vezes, quero reviver. Sobrevivo com a minha ingenuidade de menina, fazendo com que as pessoas se aproveitem disso. Choro por não ser entendida. Sofro por não saber entender. 

Uma coisa que me alivia (e muito) é pensar positivo. É reconstruir sonhos, é ter gente de bom por perto, é conviver com aqueles que não desistem de você e principalmente, é saber que você não pode desistir de você mesma. Isso é primordial para sobreviver nesse mundo estranho.


E uma dica muito importante: não faça como eu, procure um tratamento enquanto é tempo. Antes que o fundo do poço te pegue de jeito e você, não consiga um jeito de sair dele. A dor é intensa e a luta também.


Joyce Xavier 



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